Pois bem, quando digo que meus primeiros anos de vida foram muito bons,foram mesmo. Um pai muito amoroso, dedicado possuía posses e me proporcionava uma vida muio confortável. Vivia cercada das filhas dos agregados da fazenda, todas disputando a minha amizade. Estudei na melhor escola da região, escola particular com ensino integral.
Eu tinha mais irmãos, todos mais velhos que eu, eram quatro.
Minha família era bonita,vivíamos muito alegres cercados de carinho e muita liberdade.Tinha boas roupas , brinquedos modernos, e bonecas que andavam. Meados do século passado, eu já viajava, morava com minha professora nos dias de aulas, nos finais de semana tinha liberdade para escolher onde queria ficar e principalmente onde passar as féria que naturalmente era na fazenda dos pais dela, com sua irmã minha amiga como se fosse uma irmã, morando hoje nos Estados Unidos.
Era ou não era uma vida de princesa?
Uma vida diferente das meninas da minha idade, inclusive as primas que moravam próximo a mim.
Tudo isto até aos doze anos da minha meninice porque veio uma rebordosa, passou um vento forte e nossa vida virou de ponta cabeça.(Salientando que as féria juntas perduraram por uns 15 anos).
Nada absolutamente foi como antes, sendo a partir daí uma sucessão de infortúnios, vários movimentos se encarregaram de me levar para um lado e para o outro. Perdi muito das minhas referências, antes de cometer meus próprios erros impunham-me a culpa dos que não cometi. (Falência do meu pai por exemplo, mas isto é uma outra história).
Carreguei obviamente alguns traumas, algumas cicatrizes sulcaram minha alma. Venci.
Fiquei forte, nada me abatia por mais que uma noite, porque no outro dia começava a vida que seguia, continuando seu curso. Nunca tive tempo para sentar e chorar, chorava em pé mesmo ou correndo.Tenho 63 anos, as doenças crônicas herdadas dos antepassados me acometem e eu tento resistir. Tenho sido igual ao jatobá, eis que vergo e vergo muitas vezes mas não quebro.
Ainda engulo muitos sapos e corro muito pela vida a fora...
Mas fui forjada na luta, acho que passei pelo maçarico na casa do ferreiro com seu fole. Nesta vida não vim a passeio.
No processo me transformei num metal muito duro, porque assim como hoje passei uma grande raiva mas resisti sem alterar a voz, embora tenha sentido uma grande vontade de chutar o pau da barraca, ficou engasgado, parou ali na garganta, o sapo foi grande demais. Depois vieram os milhões de desculpas
Sou esculpida no aço.
Ainda estou correndo muito. Pensei que ia andar devagar mas me enganei estou correndo muito ainda.
Porque estou dizendo isto?
Não endureci o coração, sou extremamente sensível, carinhosa, amorosa. Tenho visto pessoas ao meu redor fragilizadas, que do nada desmaiam, sentem convulsão, assustando...
Hoje concluí que sou mesmo se não um metal duro, no mínimo um jatobá que balança com o vento mas resiste impávido, pronto para continuar no dia seguinte.
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